Francisco Sierra Caballero: por uma alternativa crítica para a comunicação educativa na América Latina

Share

Roseli Fígaro
Professora associada na Escola de Comunciações e Artes, professora do Programa de Pósgraduação em Ciências da Comunicação da USP. Coordenadora do Centro de Pesquisa em Comunicação e Trabalho, CPCT. Diretora editoral da revista Comunicação & Educação.
E-mail: figaro@uol.com.br

Ana Flávia Marques
Jornalista, mestranda do Programa de Pós-Graduação em Ciências da Comunicação da USP, membro do Centro de Pesquisa em Comunicação e Trabalho (CPCT) e da coordenação do Centro de Estudos da Mídia Alternativa Barão de Itararé.
E-mail: anaflaviamarx@gmail.com

Comunicação & Educação: Desde sua fundação, a missão do Ciespal foi de integração regional na formação de jornalistas e comunicadores, disseminando as orientações da Unesco. E hoje, passados mais de 50 anos de sua existencia, qual e o papel do Ciespal na América Latina?

Francisco Sierra Caballero: Agradeço esse convite para a entrevista em Comunicação & Educação, que é uma referência na área. Esta revista propõe debates fundamentais para a pesquisa em Educomunicação, em comunicação educativa — termo que prefiro. Bem, a história do Ciespal com a Unesco tem vários períodos. O primeiro é claramente funcionalista, o objetivo estratégico definido era capacitar: formar jornalistas e comunicadores. Somente a Faculdade Vera Cruzana, no México, e a Universidade de La Plata, na Argentina, tinham graduação para a formação de jornalistas. Então, para o Ciespal era uma prioridade a formação — um marco para a aliança para o progresso, um marco para políticas extensionista em comunidades rurais e para o desenvolvimento local —, mas com uma visão instrumental. No segundo período, começa um pensamento crítico latino-americano. Aqui em Quito, morava Ramiro Beltran que tinha articulação com Antonio Pasquali, com a Venezuela e o México, e, com o debate que começava, formula-se um pensamento desde o Sul, com uma ideia de epistemologia e de uma teoria própria. Isso tornou possível a primeira Conferência de São José de Costa Rica1, marco do debate da Nomic2, e da Revista Latinoamericana de Comunicação — Chasqui —, que se inicia muito avançada, a menos de duas décadas de vida de Ciespal, e se converte em um referente de debate sobre democracia mediática, políticas nacionais de comunicação, comunicação comunitária e participativa. Foi o melhor período do Ciespal. Tem continuidade na década seguinte, mas com altos e baixos. Houve projetos interessantes do Centro em parceria com a  Unesco, mas o contexto político neoliberal afeta consideravelmente sua atuação. O melhor momento foi em 1979, quando o edifício sede foi inaugurado. Depois há um declínio, que chega mais ou menos até 2004 ou até 2006. E a partir daí começa o processo da revolução cidadã, no Equador — que também influencia na mudança de perspectiva da instituição em recuperar sua trajetória inicial. Para citar um caso, o primeiro desafio que tive, ao assumir a diretoria do Ciespal, foi que o vínculo histórico entre ele e a Unesco praticamente não existia desde os anos 1990. A Unesco continuou a evoluir, mas o Ciespal não criou vias de comunicação institucionais, mas articulou-se com a OEA, resultado também do neoliberalismo, das estratégias políticas e econômicas para América Latina. Então, enfrentamos o desafio que foi retomar os vínculos com a Unesco e reforçar uma visão que chamei de governança em rede. Quer dizer, pensar a instituição como ela foi durante a década dos 1970, um Centro de conexões científicas, políticas, acadêmicas de cooperação com a Unesco, com a FAO — Organização para a Agricultura e Alimentação da ONU, com a Unicef e, praticamente, com todos os órgãos das Nações Unidas. Instituímos estreitas relações com Unasul — União das Nações Sul-Americanas, com a Celac — Comunidade de Estados Latino Americanos e Caribenhos. Temos procurado incluir no Conselho de administração as históricas entidades de comunicação que ainda não faziam parte dele, como Felafacs — Federação Latino Americana de Faculdades de Comunicação, Aler — Associação Latinoamericana de Educação Radiofônica, Alai — Agência Latino-americana de Informação, isto é, as associações regionais com vistas a reforçar a própria articulação institucional. Nós já assinamos parceria com o ILCE, que é o Instituto Latino-Americano de Comunicação Educativa, entidade da mesma época do Ciespal e, além disso, temos procurado articular com as universidades. Nesse momento, a América Latina tem um campo científico maduro, com universidades, centros de pesquisa, programas de pós-graduação, e o papel da Ciespal não deve ser de capacitar, e, sim, articular agendas, estabelecer laços, estabelecer parcerias com as universidades — no mundo profissional, entre as autoridades públicas, sociedade civil e entre os países. Além dessas articulações, criamos o MediaLab3 para construir redes, laboratórios de TIC’s na região. Também abrimos uma livraria para garantir a circulação da produção da região latino-americana, pois não se conseguem livros das diferentes unidades ou grupos de pesquisa. Ainda não alcançamos todos os objetivos, temos muito trabalho. Infelizmente, encontramos a situação desse edifício muito deteriorada e as condições das vias de comunicação institucionais debilitadas. Nosso principal papel é fazer o Ciespal ser o centro de conexões, intercâmbios, de trabalhos colaborativos das comunidades que normalmente existem nesses grupos, departamentos de universidades e instituições públicas que apoiam ou pensam nacionalmente suas realidades. O Ciespal continua sendo uma organização internacional, já que a sua principal tarefa é articular redes em nível internacional. Embora com recursos limitados, estamos à procura de garantir esse trabalho em rede.

C&E: A produção, a circulação e o conhecimento entre os países da América Latina ainda é um desafio para todos nós. Como o Ciespal tem contribuído para essa discussão? Fale um pouco mais desse desafio…

FSC: Bem, nós temos três estratégias. Uma é, como mencionei anteriormente, a livraria. A livraria hoje não é só um espaço pensado fisicamente, ela está on-line e foi projetada para autogestão, pois gera recursos para o Ciespal que não tínhamos antes. Só para dar um exemplo, nossa produção de revistas e livros era tão deficitária que não circulavam. Se você visitava o Centro tinha que ir a um armazém, que estava fechado, alguém teria de abrir, onde não se encontravam os livros, onde não havia material. Como visitante regular da instituição me surpreendeu que os livros publicados, mais ou menos bem editados, não tinham uma distribuição. Agora a livraria tem a função de difundir essa produção. Fizemos uma plataforma de comércio eletrônico e difundimos uma produção científica de toda a América Latina, assinamos acordos e insistimos que nós queremos realizar tal feito. Porque on-line nós podemos fazer isso, isto é, hoje não há justificativa para que não ocorra a conexão do conhecimento, já que existem plataformas e ferramentas que nos permitem essa circulação. A segunda estratégia são as cátedras — elas têm o papel de criar um corpo de ilustres colegas acadêmicos para organizar as políticas científicas que nós acreditamos como de referência para a América Latina. Mas o que é fundamental é criar comunidades epistêmicas, ou seja, além dos colegas especialistas que estão nas cátedras, estamos procurando construir redes. Recentemente, por exemplo, com a FAO, estamos criando uma rede de peritos em comunicação e desenvolvimento rural. Eu trabalhei nisso por um tempo na cátedra de Educação, Comunicação e Bem Viver. Queremos também criar redes de teorias críticas latinoamericans na cátedra Jesús Martín-Barbero; conexão e trabalho colaborativo, também nessa linha de economia política, que será dedicada, por exemplo, à convergência das TICs. Estamos tentando construir redes que criem redes. Tínhamos estabelecido novos orçamentos para alimentar o trabalho destas, mas, infelizmente, hoje com a crise econômica regional, não vamos poder financiar. Apesar disso, a ideia das comunidades epistêmicas é para trabalhar essas políticas e acredito que o modelo para seguir essa política é o exemplo de Clacso — Conselho Latinoamericano de Ciências Sociais, que tem crescido exponencialmente. Portanto, as comunidades não têm que estar em contato físico, elas podem ser comunidades que trabalhem em estreita colaboração entre si, e nisso acredito que o trabalho do Ciespal é estratégico. E a terceira meta tem a ver com a cooperação pública e multilateral. Estamos tentando gerar uma articulação através de projetos aplicados com as Nações Unidas e com a Unasul — projetos que implicam contato. O caso da FAO que nos encomendou um estudo sobre experiências na América Latina de Comunicação Rural Participativa e Plural é um exemplo. Nesse trabalho, articulamos uma rede com os pesquisadores não só do Ciespal, mas da Bolívia e Argentina, com o objetivo de crescer com esses projetos aplicados e de cooperação. E, de algum modo, começar a realizar trabalhos de colaboração nos projetos aplicados no território que emanam dos governos. Temos agora um lindo projeto sobre as negociações de paz na Colômbia. Vamos fazer uma plataforma de participação on-line para o diálogo e aconselhamento, que terá lugar entre o Exército de Libertação Nacional e o governo da República da Colômbia. Mas as duas primeiras metas são fundamentais. Temos avançado um pouco com a livraria, garantindo que as universidades e grupos de pesquisa possam divulgar suas produções nela e em sua plataforma digital. Mas a segunda, para mim, é ainda mais importante: construir redes de pesquisa e cooperação. É difícil trabalhar com uma lógica de colaboração, porque os pesquisadores continuam atuando com dinâmicas de grupo, fechadas, apenas nacionais. É difícil trabalhar em rede. No entanto, a minha experiência em trabalhar em redes é muito positiva e, por isso, temos procurado desde que eu cheguei, em junho de 2014, assinar convênios com as principais universidades do México, Colômbia, Brasil, Chile, Argentina e estamos trabalhando para tentar que encontrem redes de trabalhos através do Ciespal, de forma colaborativa. Nosso papel fundamental é que isso contribua, de alguma forma, a curto e médio prazo, para difundir e divulgar os trabalhos de pesquisa feitos pelos acadêmicos da rede.

C&E: Para explicar o cenário atual, fale um pouco sobre como a globalização e as tecnologias digitais abrem e fecham portas para a maioria das populações. Em sua opinião, como acontece isso na América Latina em termos de acesso, liberdade de expressão e participação?

FSC: Bem, nós temos exemplos muito claros. Lançamos, em 2016, um livro entituado Golpes Mediáticos — Teoría y análises de casos em América Latina.Na obra analisamos, por exemplo, no caso do Brasil, como as redes sociais foram utilizadas para o golpe. Temos também o exemplo da experiência vivida, no caso do México, na direção oposta, no movimento Yo soy 132 4, cujo objetivo foi, mediante a falta de liberdade de informação imposta pela Televisa (conglomerado de mídia mexicano), garantir vozes cidadãs para apresentar alternativas democráticas de governo. Então, como acontece em qualquer processo, as TICs têm, por um lado, um sistema de domínio e controle; e, por outro, um processo inverso. Temos falado muito sobre isso e criamos a cátedra Julian Assange para discutir Tecnopolítica. Tal área tem ajudado a compreender esse processo contraditório: como as redes sociais estão sendo usadas para o golpismo. E aí analisamos o caso do Equador, de uma tentativa de golpe no ano passado, juntamente com o caso do Brasil — e como com a ajuda das TIC’s, surgem outros processos no sentido inverso — como se deu a paralisação no campo, denominado paro agrário 5, na Colômbia, o movimento Yo soy 132, no México, e a Revolução dos Pinguins6, no Chile.
Falo isso porque normalmente há um mito sobre as TICs na globalização. O mito de que ela é uma estrutura descentralizada, autônoma e que pode garantir acesso e, portanto, a democracia. E esse mito é falso, já que existe um dispositivo de controle e isso tem sido demonstrado, por exemplo, nas mobilizações no Brasil, na forma que as redes deixam de funcionar, como elas podem realizar intervenções, ou como ajudam a organizar um golpe de Estado através de redes sociais, como o Movimento Brasil Livre. Logicamente com a intervenção financeira dos Estados Unidos, da agência CIA de cooperação. É evidente que tem uma função  instrumental, de controle e vigilância, como fala Armand Mattelart — insisto muito nessa ideia, porque isso tem a ver com a criminologia, tem a ver com a biopolítica que é criticada por Michel Foucault. Os sistemas de criar perfis e de construir o inimigo em potencial, ou o que se chamava de Psicologia da Multidão, as massas perigosas, multidões perigosas. Nessa acepção, a priori todos os indivíduos da rede são perigosos até que se prove o contrário. Isto é um dispositivo. Também devemos lembrar que o Sistema Internacional de Telecomunicações está ultraprivatizado pelo UIT, um órgão antidemocrático, que regula a rede de internet, sob o domínio da Agência de Segurança Nacional —­ NSA, com hegemonia absoluta dos Estados Unidos, para interferir, vigiar e organizar golpes de Estados nos países do Sul. Em decorrência disso, essas políticas colonizaram as políticas de meios analógicos e das estruturas de telecomunicações. E, por exemplo, temos a mercantilização que está permeando as políticas de comunicação pública. Estou falando isso porque não é um assunto que normalmente é discutido, mas temos o caso, no Equador, que quando fica vigente a radiodifusão comunitária, quem aplica o processo de concessão é um organismo que age com uma filosofia de telecomunicações da UIT. E, como já disse, a UIT, desde seu início, constrói um sistema internacional de telecomunicações sob a hegemonia absoluta dos Estados Unidos. E, por outro lado, acredito que existe uma demanda central por pesquisas sobre as TICs, sendo tais uma agenda pendente. Essa é uma questão que se deve trabalhar na pesquisa acadêmica latino-americana, não só porque tem uma centralidade nos processos de mudança, de modos de produção, padrões de consumo, de processos de criatividade, mas, além disso, porque estão acontecendo nas novas gerações surtos criativos, potencialidades emancipatórias que temos de analisar. Por isso, criamos na CLACSO um grupo de trabalho, o GT denominado de Tecnopolítica, Cidadania Digital e Processos de Mudança e tentamos conectar a dimensão cidadã, criativa e transformadora aos processos de ação e mobilização coletiva em todos os sentidos, a exemplo dos movimentos de Yo soy 132, no México, o paro agrário na Colômbia, e outros como Mídia Ninja do Brasil. Políticas públicas para discutir o que é governo, o que é a democracia, por que ela é importante e como ela é possível a partir de políticas de Estado.

Não falei ainda de um outro mito, que defende a ideia de que as tecnologias não são ajustáveis, de que a internet não pode ser regulada. Sim, ela é regulável e deve ser regulada. O Marco Civil da Internet no Brasil, assinado, em 2014, pela presidente Dilma Rousseff, é um exemplo que isso pode ocorrer. E, além disso, garante a democracia contra certo discurso alternativo, autônomo, sobre o que chamo criticamente, de “anarcopop”, que pensa que qualquer lei é uma armadilha para impedir a liberdade de expressão. De jeito nenhum. De um lado, analisamos o que se passa na Bolívia, o que foi vivido no Equador, e como as políticas da UIT e os interesses hegemônicos dos Estados Unidos podem desestabilizar os governos, fazer guerras, ou possíveis guerras. De outro lado, permitem também alternativas de mobilização e autoconvocações de jovens e movimentos sociais. Nesse sentido, é preciso ter atenção. Temos, justamente no livro sobre o Golpe Midiático, muitos capítulos dedicados à gestão da rede, por exemplo, e todas as contradições da globalização que permitem o uso repressivo da biopolítica contemporânea, mas também, a mobilização e a resistência. Por isso, devemos ser críticos com o mito das TICs como democracia; e outro que se vincula ao discurso da globalização das TICs como empreendedorismo e criatividade. O Panama Papers é um exemplo, propõe-se como jornalismo colaborativo entre diferentes países, mas quem financia esse jornalismo? Por que ali não aparecem as principais fortunas dos Estados Unidos e os “lobos de Wall Street”? Isso é fazer jornalismo inovador, simplesmente porque colaboram através da internet, filtrando algumas fontes de poder interessadas? Aí não há uma mudança significativa. Há a repetição do mito de que com as TICs, desde o surgimento da radiodifusão, iríamos alcançar a democracia, a paz, a compreensão intercultural, o diálogo entre os povos do planeta e o irmanamento — e não é bem assim. As TICs são dispositivos de controle, mas também permitem alguns processos emancipatórios interessantes.

C&E: Então, você pode nos falar um pouco mais deste livro Golpe Midiático?

FSC: Nós provavelmente apresentaremos este livro em Brasília, em parceria com a UnB, e terei todo o prazer em apresentar também na USP, já que analisa um pouco a perspectiva regional de São Paulo. Outro livro que estamos preparando, e trabalhei bastante nele por circunstâncias da vida, é sobre o tema das guerras e da propaganda. É um livro sobre as guerras imperialistas na América Latina a partir dos meios de comunicação. A Guerra da Informação faz análises a partir da aliança para o progresso, da Segunda Guerra Mundial até os nossos dias. Falamos sobre as estratégias dos EUA, ou seja, sua intervenção na América Latina, dedicando algumas referências à Venezuela, Brasil, Equador, México e apresentando alguns casos e exemplos.

C&E: Então, a internet e as redes sociais não são essas maravilhas revolucionárias que trazem por si só democracia participativa. Como podemos entender que muitos intelectuais ainda representam essa ideia? E como enfrentar esses pensamentos? O que podemos fazer?

FSC: Bem, existem várias coisas que se tem de fazer. Primeiro, é refletir sobre o papel da tecnologia. As tecnologias não são neutras, elas têm códigos culturais, são portadoras de ideologias. Então, não podemos pensar os meios com essa leitura centrada na mídia, que os meios são canais, instrumentos, não! Eles são dispositivos culturais. Se não fizermos esta leitura, deixaremos de politizar as TICs. Ou seja, como inovam? Onde é que elas produzem? Como é transferida? Em que contexto é implementada? Como a implantação das tecnologias pressupõe uma transformação organizativa? É evidente, após Marx7, sabemos que toda a transformação tecnológica, toda inovação afeta as condições de trabalho, ou seja, existe uma precariedade, uma proletarização da força de trabalho. Não se importam tecnologias apenas assumindo o discurso de empreendedorismo, de inovação. A inovação tem várias leituras. Tem uma leitura marxista de economia política crítica e tem uma leitura shumpeteriana8 que entende a inovação em si mesmo e por aí vai. Primeiro, temos de desmistificar a ideia de tecnologia como dispositivo neutro e pensar neste processo em termos culturais. Segundo, se pensamos que é um dispositivo cultural, devemos discutir política de comunicação. Não é pertinente adaptar ou importar modelos. Isso acontece em alguns países, como o México, que inovaram nas escolas quando nem sequer os professores tinham um salário digno. Todos, no governo de Vicente Fox, ganharam aulas digitais, mas a situação do ensino e aprendizagem era muito precária, tão precária que grande parte do território mais pobre do México — Guerrero, Oaxaca, Vera Cruz — não tinha professores em muitas de suas áreas rurais, já que o antigo sistema de teleducação, ensino a distância, também não foi cuidado. Então, eles tinham centros educativos com tecnologia de ponta e força de trabalho docente precária, e territórios descobertos pela oferta de educação. Politizar as TICs significa pensar nos «quês», «comos», «para quê», «onde», e «quem são os que se beneficiam?». Provavelmente o governo Fox beneficou as empresas e companhias de tecnologia dos Estados Unidos, e não atendeu a seus professores. E a terceira dimensão, que é a mais problemática, é que nós, como acadêmicos, intelectuais, devemos repensar os modos de produção de conhecimento. Isto é, repensar e refletir como trabalhamos a pesquisa. E não vale apenas ser cientista social, que trabalha em casa com a sua biblioteca, com seu «livrinho e trabalhar escrevendo sozinho, deve-se trabalhar em rede de forma colaborativa. Quando eu falo de redes de forma colaborativa, isso envolve também a produção de conhecimento de trabalho com as TICs, com a cidadania, com grupos sociais, com organizações e movimentos, com pessoas que não são acadêmicos, mas têm cursos, são prossumidores 9, produzem e têm espertise sobre tecnologia. Porque, pela primeira vez, na universidade, há jovens que ensinam as pessoas mais velhas, estudantes que explicam aos professores como são as tecnologias e como eles têm de se desenvolver. Inverte-se o papel do professor tradicional. Na minha época, era mais ou menos ao contrário, o professor lhe ensinava como se faz, como funcionava um teletipo, como se trabalhava… Agora você tem de aprender com o estudante o novo aplicativo, como ele é usado. Trabalhar na lógica do diálogo é saber de lógica colaborativa, implica um modo de produção de conhecimento que deve ser consubstancial e, portanto, não apenas um objeto de estudo, mas também um ambiente de como podemos trabalhar a pesquisa. Isso nos obriga, por exemplo, a nós, pessoas de comunicação, de comunicologia — que definimos a nossa ciência como uma ciência aplicada — a trabalhar com outras linguagens, não apenas a leitura e a escrita, mas também com imagens, com a visualização de dados, trabalhar com o big data, com uma elaboração, posso dizer, ampliada. Isto é difícil para nós, acadêmicos de comunicação, porque as TICs estão em nossa área, é um objeto e nos transforma de forma radical e acelerada com as formas de trabalho na rede, no processo da cultura ou da galáxia internet. Nessa junção, o desafio é difícil, é em dose dupla. Trabalhar com objetos que envolvem a pesquisa e a comunicologia com modelos de redes e tecnologias e, além disso, trabalhar com outros métodos e formas de ensino, aprendizagem e pesquisa. E isso é complicado. O grande desafio — uma
tradição latino-americana, que ocorreu na década dos 1970 e dos 1990 e tende a se recuperar — é a questão da extensão, a questão da ligação com a mídia social, os papéis sociais que essas outras universidades, a europeia, luso-hispanica e latino-americana têm agora nessa complexa realidade hipermediatizada tecnologicamente. Senão vamos ser personagens de Rice Burroughs10, perdidos na fatalidade da tecnologia em uma distopia absoluta, que inclusive contesta o papel da universidade, da academia.

C&E: Nessa perspectiva, como você vê a comunicação no domínio do ensino ou a educomunicação?

FSC: Eu prefiro falar de comunicação educativa, mas é uma discussão quase nominalista. Não vamos entrar nesse assunto. Sim, é importante…. Num livro que fez parte da minha tese de doutorado, levantei que o objeto da comunicação educativa é pensar as representações e trabalhar com discursos em termos praxiológicos. Isto é, toda representação, seja um livro de textos, seja um filme, seja uma fotografia, deve ser objeto de
análise e interpretação por qualquer leitor, por qualquer usuário. E isso significa problematizar a relação entre discurso, representação, ideologia e práxis social e ir além da visão da media literacy anglo-americana, que é aprender códigos, linguagens e ferramentas. Temos de recuperar o legado de autores, dos quais nos sentimos orgulhos de identificar uma cultura, como no legado freireano, de pensar a educação como processo para alguém que escreve a história, ou seja, a partir de discursos e de representações materiais se constroem processos sociais materiais. E, na tradição da educação popular, isso significa, na era da internet, problematizar, da mesma forma, as TICs. Todavia, observamos um retrocesso com projetos de universidades virtuais, educação a distância que pretendem restaurar o modelo condutivista e centrado na mídia — esses são conceitos restritivos. E por isso, temos alguns problemas. A partir da teoria da comunicação, percebo o conceito de competência como um problema. Seus adeptos defendem desenvolver habilidades para a cultura digital. Ou seja, o conceito de competência na teoria da comunicação tem uma visão instrumental, mesmo que Noam Chomsky seja um grande intelectual crítico, sua perspectiva linguística é uma visão instrumental da aprendizagem da linguagem para o desenvolvimento social. O que estou falando é que a teoria linguística dele não deriva da concorrência, mas é uma visão muito funcionalista. E isso é transportado aos nossos debates sobre a comunicação educativa, que têm acontecido na Unesco. Há colegas ali que usam essa lógica, muitos dos meus colegas na Espanha também. Inclusive os congressos são denominados de competência da cultura digital, e eu não concordo com esse modelo, porque seria limitador da comunicação. Este é um problema que deve ser discutido para pensar as representações e trazer a perspectiva da comunicação, como a compreendeu Mario Kaplún, como a compreendeu Paulo Freire, como a entendeu a tradição crítica latino-americana: que é aprender a fazer história com palavras ou aprender a fazer as coisas por representações. E as ideias de Michael Mann11, com as que mais me identifico, aparecem quando ele fala de ensino audiovisual, no Instituto Britânico de filmografia, na Inglaterra, e são precisamente sobre identificar o paradigma crítico como o herdeiro das matrizes da teoria da ideologia marxiana, criticando como essas representações são frutos materiais concretos. Observação importante também faz a semiótica, de que qualquer símbolo, de qualquer representação discursiva ter um grau de opacidade. Como explicava Eliseu Veron, temos de desvendar como esses discursos são construídos. São dispositivos ideológicos. Tal semióse age em nossa ideologia, em nosso imaginário e, portanto, em nosso comportamento social. Isso implica, também, que essas contradições da economia política repercutem na comunicação educativa sobre o poder, sobre o controle e o acesso na democracia contemporânea. Especialmente em tempos hipermidiáticos. Estou fascinado, ultimamente, pela literatura que nos coloca a distopia sobre o futuro do universo tecnológico e sobre a incapacidade que se tem de distinguir, numa perspectiva sociopática, entre o que são redes sociais, representações e realidades materiais. E, certamente, esse é um debate pertinente para o processo de comunicação educativa. O debate para formar um currículo, na União Europeia, tem sido muito interessante, ou seja, devemos reconhecer trabalhos intelectuais e acadêmicos de colegas para obter essa agenda como parte da política de governos. Mas, talvez por causa da falta de legitimidade social, acredita-se que a comunicação é um aspecto comercial e privativo de proprietários. Como se ela não tivesse a ver com direitos, com a educação, com a cultura, com a subjetividade. Portanto, essa situação atual condena a comunicação educativa a uma leitura que considero muito instrumental e muito pobre. Ou seja, despolitiza o recenseamento da comunicação educativa sobre a construção de representações em matéria de informação, sobre conhecimento, sobre processos de mediação.

C&E: Nesse sentido, como é possível ajustar os atuais projetos de educação formal às demandas do século XXI?

IA: Este é justamente nosso desafio atual: saber utilizar as tecnologias nos processos de ensino e aprendizagem, para que nos seja possível formar pessoas críticas e judiciosas, com capacidade de pensar e aproveitar. A
educação, como dizia Paulo Freire, é a arma da transformação social mais importante que temos à nossa disposição, temos de saber utilizá-la para melhorar nosso futuro e o dos demais. A Educomunicação, com suas metodologias, com seus processos e aspirações, é o melhor instrumento para alcançar tal objetivo.

Lanzan libro «Comunicología del Sur» de Carlos del Valle y Francisco Sierra

Share

El Dr. en Comunicación Carlos del Valle Rojas, destacado Investigador de la Universidad de la Frontera y el Dr. Francisco Sierra, Catedrático en Teoría de la Comunicación de la Universidad de Sevilla, son los editores de un nuevo libro que reúne a investigadores de primera relevancia, y de diversas nacionalidades, cuya primera versión será publicada en Ingles durante el mes de agosto.

Este libro aborda nuevas bases conceptuales para pensar críticamente sobre la comunicación como una forma necesaria de enfrentar el poder, la propiedad y el mercado como parte de la resistencia cotidiana de las culturas subalternas latinoamericanas. Los capítulos investigan un campo urgente de conocimiento situado y provocan un diálogo muy necesario. Los editores ven las experiencias de comunicación emancipatoria como actos disruptivos de resistencia, impulsados principalmente por los movimientos sociales. Estas experiencias han abierto modos políticos de comunicación al establecer un eje descolonizador en el campo de la comunicación y reconstruir la historia y la memoria de América Latina. Este libro es una valiosa referencia para investigadores, académicos y estudiantes interesados en el papel de la comunicación y la cultura en los procesos de transformación social.

En la contraportada hay un importante comentario del destacado investigador Toby Miller:

La disciplina anglosajona de las comunicaciones es amplia y en gran parte poco distinguida. Durante muchas décadas, el trabajo más interesante e influyente a nivel internacional en el campo proviene de América Latina. Este volumen, tanto recapitulativo como original, está brillantemente curado por dos editores de renombre mundial. Será un hito”. (Toby Miller, Profesor Stuart Hall de Estudios Culturales, Universidad Autónoma de México y Profesor Investigador en la División de Graduados, Universidad de California, Riverside).

“‘Comunicología del Sur’ es una lectura obligada para cualquiera que esté dispuesto a expandir el horizonte de su pensamiento sobre la interacción entre comunicación, cultura y transformación social. El proyecto epistémico promovido por el libro emerge con fuerza de un diálogo animado a lo largo de dimensiones típicamente dejado de lado por la academia dominante. Centrándose en el “subalterno”, el “bastardo”, el “imaginativo” y el “intercultural”, el libro desafía y complementa los enfoques occidentales de la comunicación y la cultura”. (Stefania Milan, Profesora de Estudios de Datos Críticos, Departamento de Estudios de Medios, Universidad de Ámsterdam, Países Bajos.)

Universidad de la Frontera. Observatorio en Comunicación, Crítica y Sociedad (OBCS)

Telepredicadores

Share

En tiempos-encrucijada como estos, la incertidumbre y crisis de confianza son propiciatorios para el pastoreo y sermonear a costa, casi siempre, del bien común. Así, los discípulos de Torquemada proliferan en España y América Latina, con el nacionalcatolicismo del más rancio espíritu castellano y las cruzadas evangélicas de los corruptos diputados brasileños o bolivianos, que, en una suerte de pogromo de los macarras de la moral, forzaron los límites de la democracia para encarcelar a Lula, tratar de liquidar a Evo Morales y, no nos hagamos los pendejos, en el fondo perseguirnos a todos pues, hablamos de un problema global que trasciende el continente americano. Como el lawfare, esta realidad es común y se manifiesta a diario en España. Lean si no el último libro de Juan José Tamayo (La internacional del odio, Icaria Editorial, 2021) que disecciona magistralmente una realidad que da que hablar y que debe hacernos pensar. Quizás por ello, el otro día tuve la tentación (bendito pecado) de ver El reino, una serie sobre el ascenso a la presidencia de la República Argentina de un pastor evangélico, recién estrenada en una plataforma de pago. La obra, dirigida por Marcelo Piñeyro, lejos de resultar una distopía puede ser visionada como una crónica del presente hegemónico en Latinoamérica. El impacto de la misma da cuenta de la anticipación de los creadores de la serie. En la mayoría de los 190 países donde ha sido estrenada ha conquistado altos índices de audiencia y, particularmente, en el país austral los debates, memes, discusiones sobre la trama de la serie siguen generando una reflexión a tomar en cuenta en nuestro país sobre el papel de la justicia, el poder de la iglesia, la irregularidad financiera del poder eclesial o el rol de la política en la construcción de la ciudadanía, de la función de los medios a las operaciones encubiertas de los servicios de inteligencia del Estado que lo mismo nos ocultan por décadas golpes de Estado mediáticos o los consabidos casos de corrupción. Puede pensar el lector que viendo la agenda informativa, deberíamos hablar de otras cosas. Quizás de Afganistán, pero es lo que tiene la licencia de una columna: actuar incluso al borde de la ficcionalización o de la ocurrencia. Claro que habrá quien seguro consiga dar sentido a estas líneas, sin pregón ni oración posible. Al menos si conocen la realidad de Latinoamérica, donde el avance de la política purista de lo peor ha sido más que notoria en las últimas décadas, si bien tiene una génesis más antigua que explica el bloqueo de toda estrategia de mediación en grandes naciones como Brasil. Hablamos, sí, del origen del neoliberalismo.

Hace cinco décadas, la población evangélica constituía el 3% en América Latina, hoy suman el 20% y constituye un actor político de primer orden en subregiones como Centroamérica, Brasil y México. Si leen el Documento de Santa Fe I y II, entenderán geopolíticamente por qué. También cuál es el hilo negro de esta historia en la construcción del reino de Hazte Oír. Tal y como analizamos en La guerra de la información (CIESPAL, Quito, 2016), Reagan y la política de roll-back procuró en todo momento atenuar lo que consideraban una influencia maléfica en la doctrina de la Iglesia, la teología de la liberación. Junto a los nuevos think tanks como Heritage Foundation, los telepredicadores proliferaron en la guerra sucia contra Nicaragua y hoy respaldan a candidatos en Costa Rica o dominan la agenda mediática en Brasil con una amplia red de centros y radios comunitarias. Con Trump, esa hegemonía se tornó absoluta en Estados Unidos. El presidente republicano impuso y normalizó otra vuelta de tuerca, esparciendo por la vasta red de medios de los telepredicadores la mentira y su repetición, a lo Goebbels. Esta vuelta de tuerca puede resultar desternillante, de risa, una mala opereta de un actor de segunda, como lo fue Reagan. Lo grave es que terminará destornillando, como vemos, la democracia americana, haciendo inservible las instituciones de representación en EE.UU. y previsiblemente con la americanización de la comunicación política también en la UE, como ya ha sucedido de hecho en Brasil. Por ser más concisos y concretos, en España, la iglesia tiene más de 60 publicaciones periódicas diocesanas, 256 revistas, 145 canales de radio, la COPE, Radio María, 13 TV, Cadena 100 y una libertad o armisticio fiscal sin parangón en Europa. Y todo ello no precisamente por el carácter emprendedor de la cúpula episcopal. Añadan las redes de radio y televisión local evangélicas, sumen el duopolio televisivo y la ausencia de medios nacionales progresistas y hablemos de guerra cultural, de Vox y de derechos constitucionales. Aquí y ahora. En el terreno yermo de la distopía. Cosas en fin de mi síndrome postvacacional. Debe ser. Así es y así se lo hemos contado.

Reseña del libro «Las complejas relaciones entre Estados Unidos y América Latina» de Carlos Midence por Francisco Sierra Caballero

Share

El orden del discurso de la postverdad es propio del negacionismo: negación de la prueba y evidencia empírica, del reino de la razón contra la barbarie, de la vida contra el fascismo de los buitres de Wall Street y los escuadrones de la muerte al servicio del orden global.

Por ello, del mismo modo que el dicho la bolsa o la vida nos sitúa ante la contradicción de la afirmación de la existencia real y concreta contra la lógica especulativa del capital, confrontar hoy la historia real con las prácticas manipuladoras del modelo de propaganda, si como decía Debord, y hoy replica Bifo, la cultura videogame, en esta era del disimulo y la mímesis estéril de la representación como dominio, es propia de una lógica imperial cuyo principal resultado es la imposición de una cultura sedada, impávida y amedrentada, que nos convierte en ilotas o esclavos de la maquinaria de guerra del capital.

Sabemos que el pensamiento, como el deseo, es, por definición, una práctica arriesgada; pero solo asumiendo este riesgo, la humanidad podrá caminar por las alamedas de la libertad de los bienes comunes en tiempos de falsificaciones y construcción del sentido a lo Trump. En otras palabras, la primera condición para un análisis a conciencia de los hechos noticiosos objeto de los relatos informativos requiere situar en su debido contexto los acontecimientos recientes, identificando los antecedentes y raíces fundamentales del conflicto. Si uno efectúa este sencillo ejercicio de reflexión intelectual, lo primero que llama poderosamente la atención es cómo la historia de nuevo se repite. De Suharto a Mobutu, de Pinochet a Fujimori, de Somoza a Duvalier, la exportación USA del terrorismo de Estado vuelve a reeditar viejas fórmulas de guerra psicológica adquiridas durante la II Guerra Mundial. Claro que, en esta ocasión, la justificación de la guerra por razones de seguridad y defensa de la democracia americana tiene lugar en un delicado momento de recesión económica y crisis de hegemonía imperial, sólo comparable a los últimos años de la administración Carter. Destaco precisamente este período por las concomitancias que cabe reconocer entre ambos escenarios políticos, marcados entre otros factores por la crisis de liderazgo presidencial, la depresión económica, el auge de los movimientos antiimperialistas y el cuestionamiento del poder e intereses estratégicos de EE.UU. en el mundo. Si añadimos además a esta descripción panorámica las fuertes tensiones y cambios socioeconómicos como resultado de las luchas sociales acumuladas, podemos observar interesantes coincidencias históricas como ilustra Carlos Midence, de la independencia de Estados Unidos y el mito de la frontera del Oeste a capítulos recientes como el golpe blando en Brasil o Nicaragua. Hablamos de hitos de 1847, 1848, 1853 hasta 1948 y la expansión imperialista de Estados Unidos tras la segunda guerra mundial.

Este libro es una útil caja de herramientas justamente porque desmonta, desde el giro decolonial, los numerosos dispositivos del imperialismo estadounidense. La dimensión de la colonialidad del discurso de la violencia simbólica es el eje que ilustra cada mecanismo de control, de la ley a la prensa, del periodismo criminal a la OEA y el FMI, de la cultura Disney al imaginario del milagro americano o, como criticara Bolíviar Echeverría, el americanismo como matriz cultural de dominio.

Ilustra para ello el autor tal lógica en tres bloques fundamentales a lo largo de la obra:

“1. La retórica imperial/colonial que le ha valido para justificar con revestimiento de falsa academia, con el aval de diversidad de centros, fundaciones, universidades, las acciones lesivas emprendidas contra otras naciones con el objetivo de dominarlas o desposeerlas.” (Midence, 2020, p.13)

“2. Los hitos históricos y socio-simbólicos de su política interior y exterior que hizo posible que las elites estructuraran el imperio.” (Midence, 2020, p.14)

«3. Las complejas relaciones entre este país y Nuestra América en particular Centroamérica y el que consideramos el paradigma de país agredido: Nicaragua sobre el que el autor es, por razones obvias, un académico reconocido con un dominio contrastado y objeto de publicación en anteriores obras en la misma línea que la que reseñamos».

En cada uno de estos bloques temáticos, se constata una de las hipótesis apuntada: la lógica del encubrimiento mediante la aplicación sistemática de lo que denomina retórica imperial/colonial desplegada para justificar; validar y encubrir los verdaderos propósitos imperiales/coloniales ampliamente documentados de Lenin y Rosa Luxemburgo a Noam Chosmky, de la teoría de la dependencia latinoamericana a la escuela de colonial, de Edward Said y Enrique Dussel a Aníbal Quijano y el propio autor. Una historia que otros hemos documentado como ideo política al describir la guerra psicológica de Estados Unidos en América Latina.

En tiempos de la guerra híbrida, la reconstrucción del epistemicidio del mundo al revés del softpower exige poner en cuarentena la colonialidad del saber que nos invade, definiendo lo bueno y lo malo en forma de dispositivos incluso procedimentales, si pensamos en el lawfare.

Para garantizar la eficacia de los mismos los relatos – científicos, políticos o informativos. – tienden a recurrir a nueve lógicas:

  • El universalismo
  • El excepcionalismo
  • La diferencia: imperial, colonial y cultural, cada una aplicada según las circunstancias o los propios sujetos a quienes se les endilga para legitimar la subalternización o dependencia por medio de la manipulación del uso de la razón.
  • El salvacionismo occidental construido dentro de un marco dicotomizado que oscila entre iluminados y sujetos a los que hay que iluminar: civilización/tradición, modernidad/atraso.
  • El paternalismo en forma de apoyo, ayuda, asistencia, cooperación
  • La subalternización con la minusvaloración cultural, epistémica y de las formas de organización de las culturas no-europeas según una subalternización determinada por una epistemología localizada.
  • La instrumentalización: Lo que occidente ha llamado institucionalismo o neo-institucionalismo ha determinado una especie de complejidad corporativa que le ha facilitado un grado excesivo de participación del poder imperial/colonial.
  • Mistificación, naturalización
  • El binarismo que ha promovido una construcción socio-cultural “que categoriza las actividades, comportamientos, emociones, pensamiento y conocimiento de los pueblos, clasificándolos en civilizado/bárbaro, democrático/autoritario, moderno/atrasado, desarrollado/subdesarrollado/envías de desarrollo.” (Midence, 2020, p.54-60).

Ya Mattelart ilustró en La comunicación-mundo la conexión de la antropometría y el sistema de control de la información, la psicología de las multitudes y la sociología de masas en la comunicación que tendría su fase de mayor proyección con Reagan y antes con Kennedy y la Alianza para el Progreso en lo que podemos denominar como corografía del dominio, desde Thomas Jefferson y Andrew Jackson a Roosevelt y Kissinger, conforme a lo que Enrique Dussel denomina EGO CONQUIRO, una lógica que conecta los cuáqueros y la mitología religiosa con los telepredicadores que financiaron la contra nicaraguense y hoy el Tea Party y la extrema derecha fascista en Estados Unidos. En este escenario y continuidad del hilo rojo de la historia, conviene centrarse en la maquinaria mediática-ideológica-cultural que desglosa el libro y explica en buena medida la llamada guerra cultural característica de los tiempos de la estrategia de golpe blando propia de la guerra híbrida. El territorio de ABYA YALA bien sabe de esta lógica desplegada en la cartografía y la simbología del dominio extremo como sabemos por Erick Williams a propósito de la conexión entre imperialismo, capitalismo y esclavitud en la geofagia imperante.

La génesis de la Cultura WASP, del anglosajonismo racializante que está en la base, como VOX, del discurso FAMILIA, TRADICIÓN Y PROPIEDAD, como MORAL MAJORITY, es por todos conocidos pero no siempre la lectura se ha parado a cuestionar las raíces del eurocentrismo como problema político y cultural. Este libro lo hace, y con criterio al deconstruir el “calvinismo, en el iluminismo y darwinismo de la época (como vectores ideológicos de este proceso). Expresiones como la ciudad en una colina o la proclama de John Sullivan, , nos revelan la adhesión a un conjunto de valores que representan un doble ejercicio político, tanto identitario como inmunitario.” (Midence, 2020, p.127). En palabras del autor, “la llamada expansión imperial por el oeste estadounidense la comprendemos, en lo que concierne al desarrollo de este sistema imperial/colonial, como el origen del llamado Destino Manifiesto/racialista.” (Midence, 2020, p.143). Este es el marco de determinación que explica la realidad, a la luz de la praxis, de pasajes como el de la familia ASTOR, el primer millonario mediático que construyó su imperio con la especulación, el latrocinio y la corrupción. Algo similar a los Vanderbilt, los Rockefeller o los Bush que no tuvieron escrúpulos en enriquecerse sobre la base del “ventajismo, tráfico, esclavitud, fomento de la desigualdad, desposesión, exterminio, fomento de las guerras, entre tantos otros oprobiosos mecanismos” (Midence, 2020, p.161). La historia y el relato de los medios, caso de la guerra de Cuba, abundan sin embargo en la espiral el disimulo, en la elipsis del encubrimiento que haga posible el espolio cuando en realidad procedimientos como el Tratado Interamericano de Asistencia Recíproca (TIAR), la Organización de Estados Americanos (OEA), la Alianza para el Progreso, el asesoramiento a las fuerzas de seguridad vienen replicando la represión, el asesinato, la tortura y las desapariciones a través del Plan Cóndor, el Plan Colombia, el Plan Puebla-Panamá o la Iniciativa Mérida.

La necropolítica contrasta en este sentido con la política de la seducción y cooptación en la medida que se naturaliza la violencia estructural y sistemática de Colombia a Haití.

Hay dos tesis, para terminar que resultan de interés en el libro. La primera es la centralidad histórica de Centroamérica conforme a la estrategia estadounidense de seguridad (teoría realista del perímetro) y el Sistema de alarma temprana complementaria de la jerarquía de espacios de influencia en el hemisferio occidental. Y la segunda, la importancia de las Ciencias Sociales, en nuestro caso la Comunicología, en la producción de esta máquina devastadora porque es necesario construir la realidad y cuando no, dominarla, controlarla, igualmente controlar a quienes se desplacen en ella, bien sean sus propios ciudadanos o los pueblos a quienes se pretenden desposeer.” (Midence, 2020, p.312). Sabemos que Estados Unidos usó “todo su potencial movilizando a Hollywood, a las casas de discos, a las principales editoriales, creando The Voice of América, auspiciando la difusión de exposiciones” (Midence, 2020, p.321) o The Reader DIGEST como parte de lo que se daría en llamar la cuarta dimensión de la diplomacia pública.

Hoy que, en palabras del autor, se está gestando una nueva geografía estratégica y que el mundo de comienzos del siglo XXI tiene su foco central en la cuenca del índico, desde el Golfo Pérsico hasta el mar de la China Meridional, con Oriente próximo y Medio, Asia central y China incluidos, deconstruir estos dispositivos de dominio y los actuales conflictos como la guerra contra el pueblo de Palestina se torna urgente. Un deber político y moral ahora que los estrategas del Pentágono andan leyendo La caída del imperio Romano de Edward GIbon. Y del que como este libro tenemos siempre antecedentes y aprendizajes en la historia: de Bolívar a Martí, de Alfaro a Zapata, y, cómo no, del obstinado comandante Sandino a Fidel. Las lecciones históricas y económico-políticas de este libro así lo demuestran, empezando por observar los límites de la propia matriz colonial que está en el origen no solo de la devastadora política aplicada en el hemisferio occidental sino las propias servidumbres que tal modelo ha impuesto a la población nativa de los propios Estados Unidos de América. Solo por ello el texto es una lectura imprescindible y potencialmente liberadora de lecturas y alternativas de resistencia que conviene empezar a explorar.

Midence, C. (2020). Las complejas relaciones entre Estados Unidos y América Latina. Madrid, España: Grupo Editorial Sial Pigmalión. S. L.

Golpes mediáticos y desinformación en la era digital. La guerra irregular en América Latina.

Share

Este artículo reflexiona acerca del papel que tienen los medios de comunicación y las redes sociales en el fenómeno de los “golpes mediáticos” en América Latina. Para ello, se explora el modelo de propaganda a través del análisis de cuatro casos relevantes de manipulación y desinformación en la región: los casos de Venezuela, México, Brasil y Ecuador. La principal conclusión a la que se llegó es que es necesario regular el sistema de medios tradicional y digital en pro de la democracia y la paz para impedir la desinformación y los golpes mediáticos.

Francisco Sierra Caballero: por uma alternativa crítica para a comunicação educativa na América Latina

Share

Roseli Fígaro
Professora associada na Escola de Comunciações e Artes, professora do Programa de Pósgraduação em Ciências da Comunicação da USP. Coordenadora do Centro de Pesquisa em Comunicação e Trabalho, CPCT. Diretora editoral da revista Comunicação & Educação.
E-mail: figaro@uol.com.br

Ana Flávia Marques
Jornalista, mestranda do Programa de Pós-Graduação em Ciências da Comunicação da USP, membro do Centro de Pesquisa em Comunicação e Trabalho (CPCT) e da coordenação do Centro de Estudos da Mídia Alternativa Barão de Itararé.
E-mail: anaflaviamarx@gmail.com

Resumo: Comunicação & Educação entrevista Francisco Sierra Caballero, diretor geral do Ciespal — Centro Internacional de Estudos Superiores para América Latina, em Quito, Equador. Francisco Sierra Caballero é licenciado em jornalismo e doutor em Ciências da Informação, pela Universidade Complutense de Madrid. Decano da Faculdade de Comunicação da Universidade de Sevilha. Desde 2014, dirige a equipe do Ciespal e, desde 2015, preside a União Latina de Economia Política da Informação, da Comunicação e da Cultura, ULEPICC. Entre suas inúmeras obras, destacamos as coautorias e obras organizadas entre 2016 e 2017: “Capitalismo Cognitivo y Economía Social del Conocimiento. La lucha por el código”; “Golpes Mediáticos. Teoría y análisis de casos en América Latina”; “Capitalismo Financiero y Comunicación”, todos de
2016; “Derecho a la comunicación. Procesos regulatorios y democracia en América Latina y Ecuador”, 2017.

Las redes sociales constituyen un terreno que ha sido colonizado

Share

¿Qué transformaciones trae consigo el cambio tecnológico? ¿Cuál es el papel de la comunicación y de los comunicadores en este escenario? ¿Qué se entiende por cultura y ciudadanía digitales? ¿Es el ciberactivismo una nueva realidad?

Estas interrogantes centraron la conferencia magistral de Francisco Sierra Caballero, catedrático de Teoría de la Comunicación de la Universidad de Sevilla, durante el evento Martí comunicador, organizado por la Asociación de Comunicadores de Cuba (ACC).

Las tecnologías han transformado el mundo y la visión que se tiene de él. Desde un punto de vista optimista, puede decirse que llegaron para desplazar la concepción de que el pueblo es una masa inerte, acrítica, incapaz de lograr un cambio radical en su entorno.

El escenario de hoy difiere de antaño. «Ya no estamos en tiempos de la industria masiva de comunicación hegemónica, de un modelo unilateral, unidireccional, centralizado, basado en la división del trabajo, en el que no tomamos en cuenta al receptor», dijo Francisco Sierra, en su conferencia en el Memorial José Martí de La Habana, en enero último.

Hoy cualquier ciudadano, teniendo como única herramienta un celular en sus manos, es capaz de reflejar su realidad más cercana. «Algunos teóricos insisten en un discurso pesimista, que afirma que el periodismo ha muerto con el auge de las tecnologías y el impulso de las redes sociales. No es cierto. El periodismo está más vivo que nunca», afirmó Sierra, quien forma parte del Instituto Andaluz de Investigación en Comunicación y Cultura, y es Presidente de la Unión Latina de Economía Política de la Comunicación.

¿Qué transformaciones trae consigo el acceso masivo a las Tecnologías de la Información y la Comunicación? ¿Qué uso está haciendo la gente común de los símbolos, cómo construyen su experiencia a través de las redes? ¿Cómo la gente se encuentra, se solidariza, se intercambia y organiza?

La reciente oleada de protestas en América Latina, Europa y Asia es un claro ejemplo. Situó en el eje del debate el papel de las redes sociales desde el punto de vista del activismo digital, los movimientos en red, la construcción de la tecnopolítica o del ciberactivismo como una nueva realidad.

Existen casos como el 15m, en España; los Chalecos Amarillos, en Francia; el movimiento Yo soy 132, en México; la Revolución de los Pingüinos, en Chile, o los sucesos contrarrevolucionarios que tuvieron lugar durante la elección del referendo constitucional de Bolivia, en 2016, enumeró el académico.

«Estos ejemplos evidencian que en las redes sociales se está construyendo un espacio público distinto», dijo Sierra. «Desde una perspectiva materialista, lo podríamos considerar como una nueva alternativa a la comunicación de los canales institucionales clásicos, o medios convencionales», pecisó.

En cada caso lo importante ha sido la ocupación del espacio público, como fue el caso del movimiento 15m en España. No era tan relevante generar una movilización en las redes sociales, sino ocupar la plaza física, en este caso la Puerta del Sol, en Madrid. «La interpenetración entre lo físico y lo virtual es una de las características del nuevo entorno virtual», argumentó.

Por otro lado, el activismo digital implica un debate sobre cómo se construyen hoy esos frentes digitales, terreno que no se aborda en profundidad en nuestras universidades.

«En España actualmente no hay ningún estudio, ni un grupo de investigación en nuestro campo, que aborde el uso por los jóvenes de las nuevas tecnologías. Si no están viendo televisión, ni leyendo la prensa, como se ha comprobado, ¿qué hacen? No conocemos qué sucede, tanto en el ámbito doméstico, como en las organizaciones».

Francisco Sierra alertó sobre otros retos que deben asumir nuestras universidades. Entre ellos, señaló que «las fuerzas de progreso, como académicos e intelectuales, deben empezar a pensar que las transformaciones que están por venir en el mundo dependerán de las nuevas tecnologías, altísimamente concentrada en unos pocos territorios y empresas. Unos pocos están estableciendo protocolos normativos. Es un espacio que han colonizado».

No es casual que las nuevas generaciones estén cada vez más despolitizadas, se lamentó.

Por último, Francisco Sierra instó a «aprender de esos movimientos antes mencionados. Son prueba de que hay un nuevo imaginario de la emancipación y una nueva era de la cultura política. Estudiemos estos fenómenos, fortalezcamos los lazos transformadores de la gente que se ha apropiado de las tecnologías».

Preceptos abordados por Francisco Sierra

  • Donald Trump ha empezado por una zona de influencia, pero la ciberguerra no inicia, ni es algo novedoso ahora en América Latina; es un proceso que se ha ensayado dentro del propio territorio de Estados Unidos, que se está ensayando, si hablamos de ciberguerra, como principal eje de disputa, en el conflicto con China, aunque todos apunten a Rusia.
  • En Bolivia funcionó y hay que recordar que funcionó no solo ahora con el golpe de Estado, sino con el referendo de 2016. Los medios, al unísono y en alianza con las redes, tuvieron un relato sobre la falsa paternidad de Evo Morales, sobre corrupción no demostrada.
  • Hoy, con las redes sociales, funciona aún más la Ley de la espiral de silencio (aquellas opiniones más sobrerrepresentadas tienden a imponerse aunque sean minoritarias), porque también existe el efecto burbuja, es decir, el aislamiento sicológico y social de los individuos, que suelen conectarse con amigos o redes con los que comparten una única visión.
  • La doctrina de los golpes blandos se inició, justamente, en América Latina, en los años 80, cuando la ultraderecha estadounidense decidió elaborar una nueva estrategia política de intervención, que se experimentó en Centroamérica y en Nicaragua con la guerra sucia contra la revolución sandinista, y que se ha ido perfeccionando hasta hoy.
  • Facebook, Twitter, las grandes empresas como lo han sido Microsoft, Apple, como lo fue ibm en el golpe de Salvador Allende, siempre han colaborado con el Pentágono y el Departamento de Defensa. Eso no ha variado.
  • Hoy, con las nuevas empresas, el llamado capitalismo de las plataformas digitales es efusivo colaborador del gobierno de ee. uu. Esa colaboración se manifiesta en que el flujo no circula, tal como ha sucedido en Ecuador con el caso de Julián Assange, en el que Facebook y Twitter han procurado eliminar cuentas de las fuerzas progresistas para evitar el intercambio.
  • Los youtubers son, en general, un fenómeno de una nueva cultura digital, que coincide con un discurso neoliberal de lo que se llama el emprendedorismo; ser un empresario de sí mismo es la máxima utopía liberal-conservadora.
  • Las nuevas generaciones, por lo menos en Europa y en Estados Unidos, ya no consumen los medios periodísticos tradicionales.
  • La posición de los actuales medios de comunicación masiva ha sido acusar que en las redes solo circulan las falsas noticias, pero lo cierto es que los principales difusores de las falsas noticias son las grandes agencias.